Previamente hígido

maio 07, 2023

 



          Falar sobre saúde masculina, ainda que seja um grande tabu para diversos homens é algo que deve ser lembrado e relembrado ao longo dos meses. Na vivência rotineira do médico, nota-se que a grande maioria dos homens chegam ao consultório sem uma queixa muito bem definida. São decididos quanto a várias ações e decisões, mas quando o assunto é saúde, bastante infantis.

          Cabe lembrar que raros são os homens que assumem impotência, perda de libido, hemorróidas e queixas de alterações da próstata. Parece que têm extrema resistência em assumir a condição de enfermo e justamente por isso, lhes é atribuído o atraso no diagnóstico. Vale ressaltar que é um exercício quase que árduo, descobrir a real queixa masculina que normalmente é descoberta com mais de 30 minutos de consulta, após um complexa interpretação das “entre-linhas”.

          Lembro muito bem sobre João, que tinha cerca de 60 anos, previamente hígido, que chegou com uma queixa de fadiga crônica e quando questionado, apresentava diminuição do jato miccional, uma ligeira ardência no final da urina e constipação crônica com piora nos últimos meses. Bebo pouca água! Disse rapidamente como que justificando as alterações do corpo que ele conhecia mais que qualquer um. Como sempre tinha tido uma vida saudável, por que logo agora estaria doente? Após muita insistência da esposa, veio ao consultório. O exame de próstata, indicado a partir de 40 anos, nunca tinha sido feito e obviamente não deveria ser eu a tocá-lo, pelo menos não naquele momento, imagine o trauma, a primeira consulta médica em décadas e ser logo “invadido”? Mas ele tinha sintomas compatíveis com alterações prostáticas.

          Foram solicitados, ultrassom de próstata via abdominal, exame para avaliar o PSA e perfil hormonal. Já esperava alterações e assim foi. Mas com as alterações já percebidas por esse idoso, o assunto “toque amigo” ficou mais fácil de ser introduzido. Fechamento parcial da luz do reto, com superfície lisa e bem delimitada, um claro sinal de aumento da próstata mas com características de benignidade.

          Após biópsia feita por urologista, todos apreensivos, chegou o laudo e foi dado diagnóstico de hiperplasia prostática benigna. Assim como na grande maioria dos casos de doenças da próstata. Contudo nem todos tem o mesmo “final feliz” quando retardam para fazer o diagnóstico.

          Lembro do José Mariano, 47 anos de idade, que foi ao médico relatando “urina com aspecto de groselha”. É bem verdade que a infecção urinária, o cálculo renal entre outras doenças renais podem gerar uma agressão com liberação de sangue na urina podendo dar essas características, contudo, estatisticamente, as infecções urinárias não fazem parte das rotina dos homens que não usam fralda e que não tem problemas de próstata.

          Foram feitos exames de rastreio e na urina ficaram evidenciadas inúmeras células sanguíneas e algumas células de defesa, ficando diagnosticada infecção urinária. Como os exames de imagem não mostraram nenhuma alteração, o exame urológico foi obrigatório. No toque retal, presença de superfície levemente irregular mas de tamanho normal. Na biópsia, diagnóstico de adenocarcinoma invasivo Gleason 9, um tipo de câncer de próstata agressivo com alta taxa de mortalidade.

          Devido ao pequeno tamanho do tumor, foi feita cirurgia com retirada total do câncer e após 5 anos de acompanhamento, não foi encontrada metástase, nem recidiva. José Mariano recebeu alta.

          A próstata é uma glândula exclusiva dos homens, localizada na frente do reto, abaixo da bexiga, envolvendo a parte superior da uretra (canal por onde passa a urina). No é responsável pela ereção nem pelo orgasmo. Sua função é produzir um líquido que compõe parte do sêmen, que nutre e protege os espermatozóides.

          A Sociedade Brasileira de Urologia, recomenda o rastreio com PSA e toque retal em todos os homens a partir de 45 anos de idade. Nos negros e homens com história familiar de câncer de próstata, essa rotina deve ser feita ao acabar os 40 anos de vida.

          Entretanto para a OMS e o Ministério de saúde, o exame periódico de próstata não é necessário, mas saber quais são os sintomas das alterações de próstata, são imprescindíveis.

          No início os sintomas são bastante inespecíficos e são comuns na infecção urinária, doença bastante comum na população feminina mas relativamente rara entre os homens. São eles:

-    Dificuldade de urinar.

-    Demora em começar e em terminar a urinar.

-    Sangue na urina.

-    Diminuição no jato da urina.

-    Necessidade em urinar mais vezes durante o dia ou noite.

          Na presença destes sinais, a próstata deve ser investigada, mas qualquer outra doença inflamatória de próstata, com hiperplasia prostática benigna ou a prostatite, podem levar a características parecidas. O exame que realmente irá definir se a enfermidade é benigna ou maligna é a biópsia da próstata, um procedimento cirúrgico que deve ser feito pelo cirurgião urologista.

          Quando vamos avaliar os benefícios e os riscos, nem sempre compensará realizar exames invasivos. Temos os seguintes exames para rastreio:

-    PSA total e livre.

-    Utrassom abdominal para visualização da próstata.

-    Toque retal.

-    Ultrassom transretal da próstata.

-    Ressonância magnética da próstata.

-    Biópsia da próstata.

          Quando o assunto é próstata, os exames menos invasivos também são os menos específicos e confiáveis. O PSA aumentado, que indicaria alteração no funcionamento da próstata, pode ser consequência até da corrida do fim de semana. O ultrassom de próstata via abdome, bem, tem tantas estruturas na frente que muitas vezes impede uma boa visualização da próstata.

          Por outro lado, os exames mais invasivos e também mais específicos, podem representar riscos. Cabe então, afirmar que o toque retal ainda que invasivo e examinador-dependente, não representa riscos a saúde física do homem. Justamente por isso recomendado e propagandeado devido ao enorme preconceito da população masculina.

          Assim sendo, saber os sintomas e fazer exames de rotina ajudam ao diagnóstico precoce de várias enfermidades e também uma intervenção no tempo ideal.


Por Carlos Pedrazas

Médico, Pós graduação em nutrologia, Pós graduação em pediatria integrativa, Mestre em ciências médicas

         

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