Falar sobre saúde
masculina, ainda que seja um grande tabu para diversos homens é algo que deve ser lembrado e relembrado ao longo dos meses. Na vivência rotineira do
médico, nota-se que a grande maioria dos homens chegam ao consultório sem uma queixa
muito bem definida. São decididos quanto a várias ações e decisões, mas quando
o assunto é saúde, bastante infantis.
Cabe lembrar que raros são os homens que
assumem impotência, perda de libido, hemorróidas e queixas de alterações da
próstata. Parece que têm extrema resistência em assumir a condição de enfermo e
justamente por isso, lhes é atribuído o atraso no diagnóstico. Vale ressaltar
que é um exercício quase que árduo, descobrir a real queixa masculina que
normalmente é descoberta com mais de 30 minutos de consulta, após um complexa
interpretação das “entre-linhas”.
Lembro muito bem sobre João, que tinha
cerca de 60 anos, previamente hígido, que chegou com uma queixa de fadiga
crônica e quando questionado, apresentava diminuição do jato miccional, uma
ligeira ardência no final da urina e constipação crônica com piora nos últimos
meses. Bebo pouca água! Disse rapidamente como que justificando as alterações
do corpo que ele conhecia mais que qualquer um. Como sempre tinha tido uma vida
saudável, por que logo agora estaria doente? Após muita insistência da esposa,
veio ao consultório. O exame de próstata, indicado a partir de 40 anos, nunca
tinha sido feito e obviamente não deveria ser eu a tocá-lo, pelo menos não
naquele momento, imagine o trauma, a primeira consulta médica em décadas e ser
logo “invadido”? Mas ele tinha sintomas compatíveis com alterações prostáticas.
Foram solicitados, ultrassom de próstata via
abdominal, exame para avaliar o PSA e perfil hormonal. Já esperava alterações e
assim foi. Mas com as alterações já percebidas por esse idoso, o assunto “toque
amigo” ficou mais fácil de ser introduzido. Fechamento parcial da luz do reto,
com superfície lisa e bem delimitada, um claro sinal de aumento da próstata mas
com características de benignidade.
Após biópsia feita por urologista, todos apreensivos,
chegou o laudo e foi dado diagnóstico de hiperplasia prostática benigna. Assim
como na grande maioria dos casos de doenças da próstata. Contudo nem todos tem
o mesmo “final feliz” quando retardam para fazer o diagnóstico.
Lembro do José Mariano, 47 anos de idade, que foi ao médico relatando
“urina com aspecto de groselha”. É bem verdade que a infecção urinária, o
cálculo renal entre outras doenças renais podem gerar uma agressão com liberação
de sangue na urina podendo dar essas características, contudo,
estatisticamente, as infecções urinárias não fazem parte das rotina dos homens
que não usam fralda e que não tem problemas de próstata.
Foram feitos exames de rastreio e na urina ficaram evidenciadas
inúmeras células sanguíneas e algumas células de defesa, ficando
diagnosticada infecção urinária. Como os exames de imagem não mostraram nenhuma
alteração, o exame urológico foi obrigatório. No toque retal, presença de
superfície levemente irregular mas de tamanho normal. Na biópsia, diagnóstico
de adenocarcinoma invasivo Gleason 9, um tipo de câncer de próstata agressivo
com alta taxa de mortalidade.
Devido ao pequeno tamanho do tumor, foi feita cirurgia com
retirada total do câncer e após 5 anos de acompanhamento, não foi encontrada
metástase, nem recidiva. José Mariano recebeu alta.
A próstata é uma glândula
exclusiva dos
homens, localizada na frente do reto, abaixo da bexiga, envolvendo a parte
superior da uretra (canal por onde passa a urina). Não é responsável pela ereção nem pelo
orgasmo. Sua função é produzir um líquido que compõe parte do sêmen, que nutre e
protege os espermatozóides.
A Sociedade Brasileira de Urologia, recomenda o rastreio com PSA e toque retal em todos os homens a partir de 45 anos de idade. Nos negros e homens com história familiar de câncer de próstata, essa rotina deve ser feita ao acabar os 40 anos de vida.
Entretanto para a OMS e o Ministério de saúde, o exame
periódico de próstata não é necessário, mas saber quais são os sintomas das
alterações de próstata, são imprescindíveis.
No início os sintomas são bastante inespecíficos e são comuns
na infecção urinária, doença bastante comum na população feminina mas
relativamente rara entre os homens. São eles:
-
Dificuldade de urinar.
-
Demora em começar e em terminar a urinar.
-
Sangue na urina.
-
Diminuição no jato da urina.
-
Necessidade em urinar mais vezes durante o dia ou noite.
Na presença destes sinais, a próstata deve ser investigada, mas
qualquer outra doença inflamatória de próstata, com hiperplasia prostática
benigna ou a prostatite, podem levar a características parecidas. O exame que
realmente irá definir se a enfermidade é benigna ou maligna é a biópsia da
próstata, um procedimento cirúrgico que deve ser feito pelo cirurgião
urologista.
Quando vamos avaliar os benefícios e os
riscos, nem sempre compensará realizar exames invasivos. Temos os seguintes
exames para rastreio:
-
PSA total e livre.
-
Utrassom abdominal para visualização da próstata.
-
Toque retal.
-
Ultrassom transretal da próstata.
-
Ressonância magnética da próstata.
-
Biópsia da próstata.
Quando o assunto é próstata, os exames menos invasivos
também são os menos específicos e confiáveis. O PSA aumentado, que indicaria
alteração no funcionamento da próstata, pode ser consequência até da corrida do
fim de semana. O ultrassom de próstata via abdome, bem, tem tantas estruturas
na frente que muitas vezes impede uma boa visualização da próstata.
Por outro lado, os exames mais invasivos e também mais
específicos, podem representar riscos. Cabe então, afirmar que o toque retal
ainda que invasivo e examinador-dependente, não representa riscos a saúde
física do homem. Justamente por isso recomendado e propagandeado devido ao enorme
preconceito da população masculina.
Assim sendo, saber os sintomas e fazer exames de rotina
ajudam ao diagnóstico precoce de várias enfermidades e também uma
intervenção no tempo ideal.
Por Carlos Pedrazas
Médico, Pós graduação em nutrologia, Pós graduação em pediatria integrativa, Mestre em ciências médicas
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